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Histórias de amores

Francyslaine V. Batista

Nascida em Três Pontas, interior de Minas Gerais – Brasil, formada em Direito, trabalha em um escritório de advocacia e passa seu tempo livre entre livros, escrita e tudo o que é relacionada a Lucero. Publica seus livros para venda de forma independente no site “Clube de Autores” - Link logo abaixo - bem como realiza postagens em um grupo privado no Facebook. É fã da Lucero há quase 10 (dez) anos e para montar seus personagens inspira-se em sua “ídola” maior e no ator Fernando Colunga, que para ela é o casal que mais teve química nas telenovelas. Esta coluna, portanto, trará, romances com uma pitada de comédia, drama, paixão, muitas "Histórias de amores". Em breve!

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 05  de dezembro de 2015

Respiração boca a boca

    Dizem por aí, que o próprio homem faz o seu destino, mas não seria o destino um grande acaso?

E se as coisas boas surgem na sua vida, seria por merecimento ou um verdadeiro presente dos deuses?

Quem diria que eu, Emanuelle Bittencourt, Manu, para os íntimos, espírito poético, cabeça de vento e unhas sempre sujas de tinta, finalmente estaria ali, curtindo férias na praia, depois de uma exposição de sucesso das minhas pinturas na galeria mais badalada do mundo da arte moderna, dando pinceladas em uma tela branca, com o cavalete repousando sobre as areias claras, sentindo a brisa da manhã roçando de leve os cabelos, tentando registrar naquela tela, todas as emoções de um coração em completa paz?

    Ok, ok, deixando de lado o meu lado poético, vamos logo para a praticidade.

    Tudo ia perfeitamente bem, o sossego e o silêncio me enchendo de inspiração para uma nova pintura, quando uma rajada de vento me deixou completamente descabelada, o vestido simples de verão, se erguendo a ponto de deixar exposto muito mais do que o devido e no meio daquele momento totalmente embaraçoso, onde eu tentava manter o vestido no lugar, afastar o cabelo do rosto para poder enxergar, tentar salvar o cavalete que não resistia a força do vento, uma voz grave e forte começou a gritar.

    Bastou um olhar e tive certeza que algo sobrenatural estava acontecendo.

    Como em uma miragem, o homem que gritava, veio correndo na minha direção, com a imagem de um quadro perfeito.

    O céu muito azul, o mar muito calmo, a areia muito clara e o homem correndo. Alto (sim, ele era enorme), os cabelos negros e fartos, mas muito bem arrumadinhos, usava um short de praia, azul escuro e o peito largo completamente nu. E aqueles braços musculosos? E aqueles olhos castanhos tão chamativos naquele rosto de deus grego? E aquele sorriso, meio torto, um pouco debochado e muito afoito?

    Será que ele não tinha consciência que sua beleza era um mau para corações femininos tão sensíveis como o meu? E será que ele não se dá conta, que deveria ser um crime, um homem tão lindo, ficar correndo por aí, exibindo todo aquele físico na frente de mulheres encalhadas que há muito tempo não davam uma namoradinha, como uma certa pintora que ficava horas e horas gastando toda a sua energia com um pincel na mão?

     Manu!!! Por favor! Estamos em uma praia e ele tem todo o direito de exibir sua beleza máscula para qualquer uma! Manu!!! Preste atenção! A sua tela! Droga!!! O vento derrubou a tela, levou para longe o cavalete e não sobrou nada mais do que um borrão.

 

_Manu! _o homem gritou e não era nada sobrenatural, na verdade era de carne e osso (e carne de primeira). _Manu, é você? _ele perguntou, recolhendo o cavalete caído e me encarando de um jeito que quase me fez engasgar. De onde aquele cara me conhecia? Até porque era impossível esquecer, se tipo, eu tivesse conhecido alguém tão bonito! Será que ele me viu na TV? Ai meu Deus! Só pode ser isso! Ele deve ser um amante da arte e assistiu aquela entrevista que eu dei, no dia da exposição, quando vendi todos os meus quadros. E se for, assim, que ótimo, porque falar de arte moderna é o meu papo favorito, ainda que sua presença tão máscula e galante esteja me deixando assim, um pouco constrangida. _Lembra de mim? _o gato da praia pergunta. _Ah, vamos lá, Emanuelle com “dois L”. _ele diz debochado e dá uma gargalhada gostosa, ignorando o cavalete, abrindo os seus braços e partindo para cima de mim com tudo. Estou a ponto de sair correndo aos gritos, porque só debochavam assim do meu nome, quando estava no ensino médio, e só um certo garoto, me abraçava daquela maneira repentina e apertada, como se fosse quebrar todos os meus ossos e tinha o poder de me deixar assim toda mole. O nome dele era Rafael Oliveira, o bad boy, galanteador, metido a galã que pegava todas as garotas do colégio, menos eu. _Manu, por favor, como você pode ter se esquecido de mim? Você sempre foi muito avoada, mas não mudei tanto, não é mesmo? Sou o Rafa, seu colega do 3º ano? O grupo de teatro! Lembra? _e ele me abraça. Calor, água salgada e areia e como há muito tempo atrás, fico toda mole, entre os braços dele, de novo.

 

    Acertei em cheio! Oh, por Deus! Faz quinze anos que eu não via o Rafa! Acabo de reencontrar o Rafael e estou toda descabelada, com as unhas sujas e o rosto respingado de tinta, mancha que Rafael acabou de tocar com o dedo, de forma carinhosa, (aquela mancha de tinta, que eu nem tinha percebido que estava ali, bem na minha bochecha).

    Que bela forma de reencontrar o primeiro garoto que me deu um beijo!

    Espere, deixe-me explicar, não foi necessariamente um beijo, até porque Rafael sempre me viu como sua colega de classe tímida, inteligente e comportada, a companheira de todas as horas no grupo de teatro (eu pintava os painéis, ajeitava todos os cenários e escrevia os textos para as peças de teatro da escola, enquanto ele só atuava e era mais bonito do que bom ator).

    O que aconteceu, na verdade, foi que na aula de educação física, quando tivemos que usar a piscina para os exercícios, acabei me afogando e se não fosse o Rafa me tirar de lá de dentro e pregar aquela boca gostosa na minha, eu teria me dado muito mal. Então, o primeiro toque da boca de um menino na minha boca virgem, foi a dele em uma respiração boca-a-boca inesquecível.

 

_Como você está? Meu Deus, Manu! Faz tantos anos que não nos vemos! Vi você na TV, arrasando com a sua pintura, hein? _ele disparou a falar e eu mal conseguia piscar na frente dele, quando finalmente, Rafa me soltou. Depois daqueles abraços eu sempre ficava sem jeito, mas ele sequer se importava. O Rafa já era um rapaz lindo, quando estávamos na escola, agora, ele merecia ganhar uma medalha de ouro no requisito gostosura e beleza. _Vi aquela mulher linda, toda formal, com o seu terninho e os cabelos muito bem arrumados, mas com os mesmos olhos e o mesmo nariz de bonequinha que são inconfundíveis, e claro, as unhas manchadas de tinta, que você nunca consegue esconder e eu não tive dúvidas. Olha só, minha amiga, Manu, dando uma entrevista na TV! Que orgulho! _ele diz e eu me sinto inflar como um balão.

 

_Hei Rafa! Quase não te reconheci! Também não é todo dia que um bonito saradão chega em mim, com tanto entusiasmo! _debocho e ele ri divertido. A risada dele era sensacional, chamava atenção de qualquer um que passava por perto. E de repente me senti meio melancólica, porque eu gostava muito dele e depois da nossa formatura nunca mais nos vimos.

 

_Emanuelle com “dois L” você está me cantando? _Rafa tinha um poder de sedução nato e aquela piscadela fazia qualquer coração feminino dar piruetas dentro do peito.

 

_Oras, eu não! _respondo imediatamente para que ele não confunda as coisas, rubra até os últimos fios de cabelo e Rafa ri de novo.

 

_Sempre tão tímida... Essas coisas nunca mudam, não é?  Vem! Me fala mais de você! _ele vai me puxando pela mão e dane-se cavalete, dane-se pinturas borradas, dane-se cabelos despenteados, a companhia dele é maravilhosa.

 

_E aí? Continuou com sua carreira de ator de teatro? _pergunto, quando nos sentamos um ao lado do outro, em frente o mar.

 

_Que nada! Agora sou médico. Pediatra.

 

_Uau! Quem diria? Que máximo, Rafa! _digo, toda admirada e sob os reflexos do sol, o rosto dele se vira na minha direção.

 

_E você, toda importante com a sua exposição de quadros. Fiquei sabendo que foi um sucesso! Meus parabéns!

 

_Estou começando a me destacar no mercado, depois de muito esforço. Obrigada, pelos parabéns... É uma coisa que eu gosto muito._digo sem jeito, quando ele segura a minha mão e fica brincando com os meus dedos.

 

_Me lembro como se fosse hoje a paixão como você pintava aqueles painéis das nossas apresentações, o rostinho borrado de tinta, seus óculos de míope caindo pelo nariz.

 

_Nada de bullying! _dou um soquinho no braço dele. Ótimos músculos por sinal. _Agora uso lentes.

 

_Não é bullying! _ele retruca em uma careta. _Você sempre foi uma garota muito bonitinha, mas agora, fiu fiu... Que mulherão!

 

_Você está me cantando, Rafa? _pergunto para tentar distraí-lo das minhas bochechas que queimam como fogo.

 

_Oras, porque não? _e de repente me dou conta, que nós dois estamos encarando nossas mãos entrelaçadas, como se estivéssemos em busca de algo. Alianças, por exemplo. Algo que ele não tem e eu também não. _Sucesso no trabalho, azar no amor. _Rafa brinca, levando minha mão até seus lábios, beijando-a como um verdadeiro cavalheiro. _Estou de férias, hospedado aqui mesmo. Acho que você também.

 

_É... É... estou. _pronto, ótima hora para começar a gaguejar.

 

_Posso te convidar para jantar juntos, esta noite? _ele pergunta e caraca Manu!!! Você tem muita sorte!!!!

 

_Oras, porque não? _faço de conta que sou totalmente desencanada diante de convites tão especiais que fazem o meu coração bater mais forte dentro do peito.

 

_Foi ótimo te ver de novo, Emanuelle com “dois L”.

 

_Dá para parar de me chamar de Emanuelle com “dois L”, que coisa mais infantil! _reclamo e ele ri malicioso. Talvez esteja sento mais infantil que ele, mas a sensação que estamos voltando há quinze anos atrás é muito plausível, quase me sinto uma adolescente de novo. E uma adolescente toda deslumbrada por Rafa. _Não tenho culpa se você era um jovem pervertido, viciado no Cine Band Privê. _debocho e ele me passa seu braço cumprido pelas minhas costas e dá um apertão carinhoso no meu braço.

 

_Emanuelle, você não mudou nada! _e estalou um beijo caprichado na minha bochecha, antes de se levantar.

_Te encontro aqui, às 20 horas? Está bom para você!

 

_Perfeito! Quer dizer, um bom horário. _digo rapidamente e ele sorri me deixando sozinha. E sozinha, me levanto, dou alguns pulinhos, erguendo as mãos para o céu e agradecendo aos deuses pelo belo presente que acabei de receber.

[...]

 

    Estou aqui, plantada como um coqueiro, toda bonitinha com o meu vestido prateado, uma rasteirinha bordada, argolas nas orelhas, os cabelos soltos e naturalmente cacheados. Os olhos fixos no relógio de pulso e esperando... Esperando... A noite muito silenciosa, e cansando... Cansando. 20:30 horas e desanimando... Desanimando.

    Resolvi me mover e fazer de conta que não estava aborrecida com ele. E quem sabe, molhar os pés no mar e pular ondinhas? Ah, que se dane... Vou molhar as canelas, até os joelhos e a barra do vestido!

    Rafa é assim mesmo, ele também não havia mudado nada! Rafa nunca teve responsabilidade com compromissos. Como há quinze anos atrás, quando deixava inúmeras mocinhas chorosas, esperando por ele, estou ali, com o coração pesado, porque estupidamente senti uma pontada de esperança surgir quando ele me convidou para passear esta noite.

    Não que eu tenha ficado a minha vida inteira, pensando no garoto, pelo qual, no ensino médio, eu tinha uma quedinha (tudo bem, uma queda enorme), mas revê-lo me trouxe aquele frio na barriga, balançou o meu coração e me fez ter uma doce ilusão, que quem sabe, eu poderia encontrar alguém para me aquecer nas noites frias, já que meu último namorado levou um pé na bunda merecido!

    Minha mãe dizia que eu era uma desastrada. Meus professores diziam que sempre fui uma garota muito inteligente, mas extremamente avoada. Um psicólogo me disse que tanta distração poderia ser fruto de uma mente muito rápida, o fato é que acabei de tropeçar em algo e escorregar.

    E uma onda me derrubou!

    E eu não sei nadar!!!!!!!!!!!!!!!

    Vou morrer!

    Jesus Cristinho!

    Eu vou morrer, justo agora que recebi uma boa bolada em dinheiro, que fiz meu nome no mundo da arte, que estou de férias em uma praia paradisíaca, que reencontrei o garoto que me deu o meu primeiro beijo e o mar me puxa para o fundo, até que mãos pesadas me puxam, um corpo grande me envolve.

    Terno e perfume caro. Braços musculosos. E estou sendo carregada, mais para lá do que para cá.

    Acabei de ser deitada na areia (droga, estraguei o meu vestido novo!), apertaram o meu nariz e uma boca quente acabou de soprar o ar para dentro de mim (um hálito muito fresco) e pressionar os meus peitos com força, até a água salgada escapar pela minha boca. Abro os olhos, lentamente, vejo seu rosto levemente quadrado e como há quinze anos atrás, seus olhos preocupados fitam os meus.

 

_Você está bem, Manu? _Rafa pergunta. _Fala comigo, por favor!

 

_Te esperei... Você não veio... _o acuso. Qual é o meu problema? Quase morri afogada por duas vezes. Nas duas vezes, Rafa salvou a minha vida e eu estou reclamando porque ele chegou tarde no nosso encontro? Deve ser por isso que estou tossindo como uma condenada. Deve ser um castigo por ser tão bocuda.

 

_Calma! Calma... _ele ergue um pouco da minha cabeça e me encara de um jeito muito terno. _Tive uma emergência. Atendi uma criança engasgada com um olho de boneca. _Rafa ri. _Mas, agora já está tudo bem, tudo certo. Não tinha como te ligar para avisar, porque você não me deu o seu celular. Posso ter chegado atrasado, mas jamais te deixaria na mão, Emanuelle.

 

_Desculpa, nem pensei que algo assim pudesse ter acontecido e... Obrigada. Você salvou a minha vida. De novo... _tento me levantar, mas Rafa me empurra de volta para a areia. Sinto o seu corpo pesado pressionar o meu e minha pele toda se arrepia.

 

_Lembra quando você se afogou na piscina no colégio e eu tive que lhe fazer uma respiração boca a boca? _ele pergunta, seu rosto, muito próximo do meu, aqueles lábios atrativos roçando de leve o meu queixo.

 

_Como posso esquecer...? _minha voz sai em um breve sussurro.

 

_Só que agora já somos grandinhos e muito mais experientes. Posso te fazer uma respiração boca a boca diferente? _ele pergunta, seus olhos escurecidos de desejo encarando os meus.

 

_Diferente, é? _pergunto deslumbrada.

 

_Se você não se importar... _ele sussurra, antes de pregar sua boca maravilhosa na minha. Nossos lábios se conhecem de verdade, pela primeira vez, como dois adultos famintos pelo outro e é uma sensação maravilhosa. É quase como levar um choque de eletricidade, que arrepia, aquece, estremece, enquanto nossas línguas se envolvem e o contato das nossas bocas se tornam mais intenso. Mal conseguimos respirar quando ele ergue o seu rosto, sorri de um jeito que só Rafa sorria e toca de leve o meu seio.

 

_Não, eu não me importo... _respondo um pouco tarde demais, mas no tempo certo, quando rolamos pela areia entre risos e beijos que traziam a promessa de que uma história muito, mas muito, feliz, estava pronta para recomeçar.

Fim!

 20  de dezembro de 2015

Querido Papai Noel

Não tenho mais seis anos de idade e também já não acredito em Papai Noel há muito tempo, mas acho que estou contagiada com as crianças que conheci no Orfanato Pinguinho de Luz, portanto, “bom velhinho” aí vai a minha linda cartinha com os meus pedidos de Natal:

Olá Papai Noel! Tudo de bom por aí? Sou a Mile. Ok, identificação completa. Sou a Camile Marins de Brito, jornalista, trinta e alguns poucos anos, solteirinha da silva. Não quero pedir muita coisa de Natal, na verdade, só quero o básico dos básicos, portanto seja bonzinho e atenda aos pedidos desta menina grande, que se comportou muito bem este ano. Em primeiro lugar quero uma promoção no emprego, porque acho que mereço muito, afinal não fui eu, que trabalhei o ano todo como uma condenada, ou melhor, a única que parece trabalhar de verdade nesse lugar? Ser redatora chefe do jornal não é um pedido tão absurdo, certo? Também quero férias no litoral. Papai Noel estou muito cansada, acho que estou estafada e estou vivendo a base de café, por isso quero alguns dias para ficar com a barriga para cima, tomando sol e água de coco. Estou branca, quase translúcida e a falta de sol atrapalha a saúde de qualquer um, sabe, aquela tal de vitamina D, que só contribui para me deixar ainda mais cansada! Não quero saber de bloquinho de notas, maquinas fotográficas, gravadores e espero que aquele casal da novela das 9 não assuma o seu relacionamento antes que eu volte de viagem, rá rá rá. Ah, não posso esquecer dos menininhos do Orfanato Pinguinho de Luz, por favor, Papai Noel, que eles possam conseguir o patrocínio necessário para a construção de uma nova sede, a antiga está um caos e eu até senti uma imensa vontade de levar todos aqueles garotinhos para a minha casa. Só não o fiz, porque primeiramente, eles não caberiam lá e segundo, eles precisam de cuidados e atenções que eu não conseguirei dar, com essa vida tão corrida e só para frisar, meu apartamento já é uma bagunça, levando crianças para lá vai ficar pior ainda e não quero ser uma má influência para os pequeninos. Veja só, Papai Noel, aí vai o meu último pedido. Quero um NAMORADO!!! Por favor, não se esqueça disso, porque estou precisando muito, de verdade. Quero um namorado bonito, alto, gentil, estudioso e trabalhador, que saiba levar as mulheres a sério e respeite as divas poderosas que somos. Esse negócio de ficar encalhada já está me deixando preocupada. Meu irmão disse que vou acabar ficando para titia. Gosto de ser titia, mas não quero só isso. Ao menos que a titia tenha alguém para esquentar seus pés nas noites frias. Só peço um empurrãozinho, Papai Noel! Nessa vida tão corrida, quando chego em casa, só venho querendo o meu sofá e preciso seriamente de alguém que vá para o sofá comigo! Quero fazer sexo, Papai Noel! E o meu namorado perfeito tem que ser muito fogoso, e claro, muito carinhoso também. Ele pode massagear meus pés antes da transa e não vai se importar nem um pouco com os meus joanetes. Na verdade ele vai achar lindo e excitante. E o meu homem perfeito tem que ser muito romântico. Ele vai me levar para uma cama enorme com pétalas de rosas vermelhas espalhadas por todo o lençol e velas aromáticas ao nosso redor, e quando nós começarmos a fazer amor... Ai perdão, Papai Noel! Acho que estou me excedendo nesse papo, então, concluindo, quero um companheiro que entenda o meu trabalho, que me faça feliz, ou melhor, que faça o serviço completo. Beijo, beijo. Feliz Natal! Mile”.

   Meu computador pifou!!!!!!!

   Estava quase terminando a matéria sobre as criancinhas órfãs e o meu computador simplesmente apagou do nada e não liga nem por dentro de reza brava! Meu chefe, o velhinho boa praça, Sr. Bernardo, acabou de se sentar na minha mesa e mexer na bagunça dos meus papéis e me apressar com a matéria que ele quer que saia no jornal de amanhã. Dia 25 de dezembro. Quando a notícia do computador pifado vem à tona, ele não grita, nem entra em pânico. Ele simplesmente diz “Comece de novo!”.

 

_Não posso começar de novo, não sem o meu computador! Eu já estava quase terminando, está tudo lá dentro, não usei o pen drive, nem o hd externo! Meu Deus, eu vou morrer!!!!!!!!!

 

_Lamento, Mile, mas preciso dessa reportagem para amanhã bem cedo.

 

_Mas hoje é dia 24!!! É véspera de Natal!!!!!! Eu vou ficar aqui a madrugada toda se tiver que começar de novo!!!!

 

_Como já disse, quero a reportagem sobre as crianças órfãs no jornal de amanhã. Preciso comover as pessoas e tentar angariar fundos para a construção da nova sede e sei que posso contar com você doce Mile. Com sua linda reportagem, nós vamos conseguir um novo lar para os internos do Pinguinho de Luz! Seu pai ficaria tão orgulhoso do seu trabalho! _meu chefe começou a jogar sujo. _Ele ficaria tão feliz em saber que sua querida filha vai ser promovida para redatora chefe em 2016.

 

_Que? Que? Que?????????

 

_E antes de tomar seu novo posto, posso te conceder duas semanas de férias.

 

_Ai meu Deus!!!!!!

 

_Está vendo, Mile? O Papai Noel está atendendo aos seus pedidos. Agora quanto um namorado, quem sabe não aparece alguém bem legal por aí. E o resto, bem o resto é com você.

           

   Ai que vergonha!!!!!!

   Ai meu Deus!!!!!!!

   Ele está com a minha carta nas mãos!! Ele leu tudo! Ele leu todos os absurdos que eu escrevi sobre massagens no pé e sexo em camas enfeitadas com pétalas de rosas! Isso é invasão de privacidade! Mas ele vai me dar uma promoção e duas semanas de férias, por isso nem posso falar nada!

 

_Ok, chefinho. Eu vou terminar a reportagem. Só vou para casa tomar um banho e passo toda a noite aqui, mas termino antes do jornal de amanhã sair. O senhor pode chamar o Geraldine para arrumar o meu computador? Se ele conseguir vai ser bem mais fácil, posso concluir tudo e ir comer peru e farofa com passas na casa do meu irmão.

 

_Ok, doce Mile. O TI virá. Ho ho ho... Feliz Natal! _Bernardo com aquela barba branca parecia até Papai Noel de verdade.

 

[...]

 

   Coloco o meu vestido vermelho de Mamãe Noel, minhas botas verdes que usei no último aniversário do meu sobrinho, minha toquinha vermelha com um pompom que brilha no escuro. Se é para passar a véspera de Natal trabalhando, vou fazer isso com estilo! Carrego uma garrafa de champanhe debaixo do braço, uma cesta com uvas e sanduiches de peito de peru (espero que não me confundam com a Chapeuzinho Vermelho). Já que vou passar a minha “noite feliz” ao lado do Geraldine, aproveito e levo uma travessinha com chifrinhos de rena para ele e uma gravata toda estampada de desenhos natalinos. O que é a vida sem um pouco de senso de humor?

 

_Geraldine, cadê você, meu amor??? _chego gritando. Geraldine  (o TI gay) e eu, somos muito amigos e sempre zoamos muito um com o outro. Espero um pouco e nada de Geraldine. Vou ter que me virar com outro computador, mas antes não deixo de dar uns chutes no meu, para ver se ele reage. Talvez se eu olhasse o que está acontecendo lá atrás, lá em baixo (no computador óbvio) consiga ligar aquela coisa.

 

   Estou lá com a cabeça quase dentro da máquina e o bumbum empinado para cima, quando uma voz grave e profunda pergunta “Posso te ajudar em alguma coisa?”

   Quando olho para cima meu gorrinho vermelho cai, de tanto susto. “Quem é você?????????” berro estridente e o gato misterioso dá um salto para trás. Porque ele é um gato. Meu Deus ele é lindo, ele é tudo, tudo de bom!!!!! Independente da beleza, nessa onda de assaltos, não podemos facilitar com nada, nem ninguém.

 

_Sou o Felipe. O novo TI da empresa. _ele afirma constrangido e eu não consigo me levantar, porque estou toda bamba. O novo TI é enorme, um moreno muito espaçoso (quero dizer, espaçoso de um jeito muito bom, porque ele é alto, tem os ombros bem largos, e é muito grande em tudo). Suas roupas são um pouco bregas (calça social larga e uma camisa xadrez (mas quem sou eu para reparar nas roupas dele quando estou vestida como se fosse para uma festa à fantasia?). Ele está usando óculos de vista, os cabelos escuros muito bem penteados e percebendo que estou esparramada no chão, sem possibilidade de levantar, Felipe me entrega sua mão, me ajudando a levantar.

 

_Onde está o Geraldine? _pergunto me deixando ser puxada.

 

_Ele foi passar o fim de ano com a família. Meu tio Bernardo me chamou para dar uma mãozinha aqui na redação. Quando o Geraldine voltar vou ajudá-lo na manutenção dos computadores. Meu tio me disse que tinha um problema muito urgente em um computador daqui e que eu precisava concertá-lo hoje, irremediavelmente, improrrogavelmente e todos os “mentes” que você conhece.

 

   Felipe parecia um “nerd”, mas um “nerd” gostosão e que não tinha nada de tímido, na verdade, ele falava pelos cotovelos.

 

_Vamos lá, o que temos aqui? _ele diz indo para a minha mesa e se deparando com os chifrinhos de rena, as uvas, o champanhe e os sanduiches.

 

_Era para o Geraldine.

 

_Belo espírito de Natal! _Felipe brinca sorrindo. Um sorriso que me deixou de queixo no chão.

 

_Estou me sentindo ridícula. _começo a ficar toda tímida e ele ri, recolhendo meu gorrinho vermelho. _Eu e o Geraldine somos amigos e sempre brincamos muito.

 

_Brinque comigo. _ele diz colocando os chifrinhos de rena na cabeça e eu me derreto todinha. _É um prazer te conhecer, famosa Camile. Mile, não é? Você é muito mais bonita do que o meu tio disse.

 

_Ah, muito obrigada, Felipe. _estou mais vermelha que o meu vestido de Mamãe Noel. O bonitão está me dando bola, ai meu Deus do céu!!!!! Por que não?

 

_Me explica o que aconteceu com o seu “PC”. Vamos ver o que posso fazer por ele!

 

[...]

 

   Já são quase 23:30 horas e o computador ainda não ligou totalmente. Ele está passando alguns dados para o HD externo ou qualquer coisa que os técnicos de informática fazem, além de ter me prometido, entregar o meu arquivo com a reportagem quase pronta, intacto, quando ele terminasse. E nós conversamos muito. Ele fala demais e já está me chamando de “Tagarela”. Praticamente já sei tudo sobre ele, um técnico em informática, que morava fora e veio para a cidade para acompanhar a recuperação da mãe que fez uma cirurgia (o cara é ligado a família, ponto para ele), aceitou o convite do tio para trabalhar no Jornal (o que significa que vamos nos ver com frequência) e teve um término recente com sua namorada que o deixou por um homem mais rico e lhe causou muito sofrimento (coitadinho!). Felipe ama jogos de computador, mas também adora surfar e escalar montanhas. Ele comeu meu sanduiche de peito de peru como se fosse uma iguaria de um restaurante caro e dividimos a uva, uma para cada, até acabarmos com o cacho todo. Enquanto eu brincava com a cadeira de rodinhas (indo para frente e para trás e dando até umas rodadinhas), Felipe trabalhava com afinco e tinha braços muito fortes (o que dava para ver, mesmo que ele usasse aquela camisa de flanela xadrez).

 

_Ai Felipe, porque você não acaba com isso logo? _estou tomando a terceira tacinha de champanhe (ok, era só um copo comum do dia a dia). _Se eu não terminar a minha reportagem, seu tio vai me comer viva!

 

_Relaxa, Mile, já estou acabando!

 

_Já é quase meia noite!

 

_Não tenho culpa se você ferrou com o seu “PC” lindamente!

 

_Rá rá, engraçadinho!

 

_Só mais um pouco e... _ele foi correndo para outro computador, como se fosse o Super Homem, foi só o tempo de ligá-lo, digitar algumas coisas, enquanto eu quase roia as unhas de ansiedade.

 

_Olha! Vem ver!!!!! _ele grita e eu corro desajeitada, atropelando todas as cadeiras de rodinhas na nossa frente. O problema é que acabo tropeçando em alguns fios e quase caio de cara no chão. Felipe me segura a tempo e ficamos muito, mas muito, pertinho. Os olhos dele são muito intensos e o maxilar de Felipe é muito forte. E a boca, meu Deus, a boca dele é tão carnuda, quando se olha de tão perto! Desvio minhas atenções para a tela do computador e na proteção de tela surgem as letras que vão aparecendo lentamente até formar um: “Feliz Natal, Mile! Após terminar o seu trabalho, topa sair comigo? Seu mais novo TI preferido, Felipe”.

 

   Dou uma risadinha e Felipe sorri. O sorriso dele é meio contido e muito fofo. Só então percebo que ele ainda está segurando a minha cintura de um jeito bem carinhoso e quando paramos de sorrir, a boca dele se aproxima da minha lentamente. E eu o ataco, dependurada no seu pescoço, correspondendo o seu beijo com fervor, porque ele é um cara legal, divertido, atrativo e que ganhou mais um ponto comigo, por sua surpresa tão bonitinha. Ao fundo escuto o relógio badalar doze vezes. Já é Natal!!!!!!! Que presente mais delicioso!

 

   Querido Papai Noel, o resto é comigo!

Fim!

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